sábado, 12 de novembro de 2016

Sonhos



Às vezes tenho vontade de me deitar, de fechar os olhos e ficar ali a olhar o tecto, tal como faz o meu cunhado, sem compromissos, sem horas de levantar. Recordar o passado, saber o que fiz de bem e de mal. Apetece-me sonhar, não como aqueles sonhos matinais, em que ando numa guerra pegada com gente que mal conheço, perdido em ruas estreitas, mal frequentadas, ruas com saídas para o mar, que me deixam o corpo moído, mas sonhos de verdade. Sonhar com uma velhice calma, sonhar com os telejornais à hora de almoço e com as crónicas do Pacheco Pereira; sonhar com a travessia do Douro e com as mulheres estátuas da Rua Augusta. Sonhar em ler todos os livros de António Lobo Antunes.

Não ter de inventar desculpas para não ir caminhar, embora, quase sempre, a minha consciência me transmita recados e avisos sobre a minha preguiça. Eu sei que é preciso insistir, que é necessário teimar com as pernas, que às vezes não têm muita vontade de obedecer. Caso seja o vosso caso, continuem a teimar, caso contrário chegam a uma altura, passam a andar agarrados às paredes e a dar passos de tartaruga.

Estou a perder o apetite. Só não consigo perceber porque não emagreço. As calças de ganga com licra são óptimas para não nos percebermos se estamos a engordar ou a emagrecer. Mas deixei as calças de licra que pioravam a minha psoríase. Quando como só com uma mão, é sinal que estou a fazer um frete, que a comida não está a agradar-me. A minha mulher sabe do que gosto e tenta sempre vir ao encontro da minha vontade. Comam o que vos apetece, o que vos saiba bem e não se deixem dominar pela comida que não sabe a nada. Não troquem a caminhada por qualquer divertimento fútil ou por um fim de tarde numa churrascaria, a petiscar e a beber copos de vinho de qualidade duvidosa. Não troquem a caminhada, especialmente por conversas vazias de café.

Sinto o nome das pessoas a fugir-me. Sinto mais dificuldade em memorizar os nomes, mesmo de pessoas com quem lido frequentemente. Existem nomes que são mais difíceis de fixar do que outros. Ainda há pouco tempo, em conversa com um casal amigo, eu lhes dizia, a respeito da minha falta de memória: 

"Vocês não sabem e nem imaginam como tem sido difícil para mim disfarçar este problema, mas a verdade é que tenho graves problemas de memória."

Acho até que nem o meu médico de família, nem o psicólogo, nem a neurologista, conseguiram perceber que a minha memória, está a apagar-se cada vez mais depressa.

 Esse casal amigo também nunca se tinha apercebido...

Félix Lamartine



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