Às vezes tenho vontade de me
deitar, de fechar os olhos e ficar ali a
olhar o tecto, tal como faz o meu cunhado, sem compromissos, sem horas de
levantar. Recordar o passado, saber o que fiz de bem e de mal. Apetece-me
sonhar, não como aqueles sonhos matinais, em que ando numa guerra pegada com
gente que mal conheço, perdido em ruas estreitas, mal frequentadas, ruas com
saídas para o mar, que me deixam o corpo moído, mas sonhos de verdade. Sonhar
com uma velhice calma, sonhar com os telejornais à hora de almoço e com as
crónicas do Pacheco Pereira; sonhar com a travessia do Douro e com as mulheres estátuas
da Rua Augusta. Sonhar em ler todos os livros de António Lobo Antunes.
Não ter de inventar desculpas
para não ir caminhar, embora, quase sempre, a minha consciência me transmita
recados e avisos sobre a minha preguiça. Eu sei que é preciso insistir, que é
necessário teimar com as pernas, que às vezes não têm muita vontade de
obedecer. Caso seja o vosso caso, continuem a teimar, caso contrário chegam a
uma altura, passam a andar agarrados às paredes e a dar passos de tartaruga.
Estou a perder o apetite. Só não
consigo perceber porque não emagreço. As calças de ganga com licra são óptimas
para não nos percebermos se estamos a engordar ou a emagrecer. Mas deixei as
calças de licra que pioravam a minha psoríase. Quando como só com uma mão, é sinal
que estou a fazer um frete, que a comida não está a agradar-me. A minha mulher
sabe do que gosto e tenta sempre vir ao encontro da minha vontade. Comam o que
vos apetece, o que vos saiba bem e não se deixem dominar pela comida que não
sabe a nada. Não troquem a caminhada por qualquer divertimento fútil ou por um
fim de tarde numa churrascaria, a petiscar e a beber copos de vinho de
qualidade duvidosa. Não troquem a caminhada, especialmente por conversas vazias
de café.
Sinto o nome das pessoas a
fugir-me. Sinto mais dificuldade em memorizar os nomes, mesmo de pessoas com
quem lido frequentemente. Existem nomes que são mais difíceis de fixar do que outros.
Ainda há pouco tempo, em conversa com um casal amigo, eu lhes dizia, a respeito
da minha falta de memória:
Acho até que nem o meu médico de família, nem o psicólogo, nem a neurologista, conseguiram perceber que a minha memória, está a apagar-se cada vez mais depressa.
Esse casal amigo também nunca se tinha apercebido...
Félix Lamartine
Sem comentários:
Enviar um comentário