No princípio da semana passada,
acordei com umas ligeiras dores de cabeça. Almocei e tomei café e as dores
agudizaram-se de tal maneira, que se tornaram insuportáveis e tive de recorrer
aos serviços de urgência do Centro de Saúde. A médica, bastante simpática,
prescreveu-me uma injecção nas veias, aplicada de imediato na enfermaria do
Centro de Saúde. Passada uma hora eu estava praticamente recuperado, ficaram
apenas uns leves indícios.
Mas nos dias que se seguiram,
senti que alguma coisa tinha mudado. Pelo menos tinha essa sensação, como se as
coisas que estavam na minha memória, se tivessem transferido para algures.
Perdi a noção do tempo, perdi reflexos, perdi nomes de pessoas, senti tonturas.
Simultaneamente, por acaso, comecei a ler “Memorial do Convento” de José
Saramago e senti algumas dificuldades na interpretação do texto. Estive tentado
a abandonar o livro, sentia-me incapaz de o compreender, cheguei a pensar que
estava a atravessar uma nova fase, que já nada seria como dantes, que o melhor
mesmo seria escolher um tipo de literatura mais acessível
.
Felizmente as coisas começaram a
melhorar. Passei a entender melhor o Baltazar Sete Sóis e os poderes de
Blimunda. Passei a arquivar os nomes perdidos, na minha memória. Voltou o
equilíbrio, deixei de caminhar com tendência de me inclinar para a esquerda. A leitura
passou a ser agradável apesar de não gostar de Saramago como homem.
A memória continua a ter altos e
baixos. Uns dias melhor, outros dias teimosa. Mas não me importava de passar o resto
dos meus dias, exactamente como estou neste momento. Às vezes demoro a reagir,
fico calado a pôr as ideias em ordem. Mas tenho passado uns dias maravilhosos,
apesar do sol tardar em chegar.
Mas decerto não vai ser sempre assim.
Félix Lamartine
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