Sinto alguma dificuldade em
articular as ideias com as palavras. Expresso-me mal, as frases não são bem
construídas, esqueço os nomes e o que é mais grave, faltam as palavras. Está a
acontecer agora com mais frequência. Quando antes era apenas falta de memória
para reter os nomes próprios, agora também me faltam as palavras. Tento
disfarçar, mas as pessoas notam que a fluência de antigamente está a
desaparecer. Por isso evito contar factos ou histórias em público. Evito falar
de música ou de livros, porque me esqueço dos nomes dos intérpretes ou dos
escritores e baralho-me na procura das palavras certas.
Mantenho o sentido de humor,
continuo a ler e a gostar da música. Actualmente estou a ler “A Máquina de
Fazer Espanhóis” de Walter Hugo Mãe. Um pouco deprimente, a vida num lar para
velhos. Mas eu já sabia o que era um lar, por ser visita assídua a uma pessoa
de família, que se encontra num desses lares. E já tinha feito uma reflexão
sobre esta espécie de “vida”, que coincide em grande parte, com as descrições
do escritor. Nada que me ajude nesta fase da vida.
Às vezes tenho vergonha de não
construir uma frase com princípio meio e fim. A minha imprecisão confunde as
pessoas. Eu nunca fui assim. Sempre de resposta pronta na ponta da língua, as
pessoas nunca ficavam sem resposta, sempre bem-humorada e delicada. Agora dizem
que eu preciso de tempo para dar a resposta, mas eu estou apenas à procura das
palavras certas.
As listas com os nomes esquecidos
são agora mais compridas e os papeizinhos rectangulares para servirem de
memorandos, aumentaram em quantidade.
A minha gastrite acordou. Será
que é a causa é o aumento de stress?
Mas eu sinto-me calmíssimo.
Aparentemente, claro.
Félix Lamartine
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