Estou melhor ou estou pior?
Não consigo dizer com a certeza
absoluta, mas sinto que algumas faculdades cognitivas me estão a abandonar.
Muito ligeiramente, que estas coisas são lentas e nós quase não nos
apercebemos. É no entanto a memória que mais me tem falhado, os nomes das
pessoas que teimam em ficam na penumbra, embora alguns deles apareçam depois de
algum esforço. Talvez a evolução da doença está na razão directa da quantidade
de nomes que eu me esqueço. Estava a ler o “Declínio do Império Whiting” e
decidi voltar ao princípio, depois de ter lido 50 páginas. Não que eu tivesse
esquecido o nome dos personagens ou mesmo o fio à história, apenas senti
necessidade de conhecê-los melhor, com mais detalhe. Às vezes o café está mais
ruidoso e o ambiente não é o mais conveniente para interiorizarmos o que lá
está escrito.
Por vezes fazem-me uma pergunta
que está relacionado com a conversa anterior e tenho de fazer uma pausa para me
lembrar do que estávamos a falar antes e simultaneamente descodificar o sentido
da pergunta. Como faço uma pausa diminuta para me lembrar a que é que se refere
a questão, pensam que estou distraído. Há, portanto, uma certa lentidão no
processo, que as pessoas que nos rodeiam, às vezes não entendem. E dizem que
estamos distraídos, o que não é verdade.
Tremem-me as mãos com alguma
frequência, decerto devido ao meu sistema nervoso que anda descontrolado com a depressão.
As notícias sobre a situação do país, também não ajudam. A maneira como somos
enganados por gente que não tem decência, pioram o estado da nossa saúde. Para
nós, que somos o elo mais fraco, é como lutar contra moinhos de vento.
Também sinto leves
desequilíbrios, normalmente para a esquerda. Não em termos políticos, claro.
Quando caminho, o corpo leva-me a fazer leves desvios, quase imperceptíveis,
mas quem vier atrás de mim, deve pensar que venho de algum almoço bem regado.
Sinceramente, acho que o
intervalo entre uma consulta e outra é demasiado longo. Um ano é uma
eternidade. Este é o balanço de cerca de cinco meses. Neste tipo de doenças,
com depressões que às vezes têm desfechos imprevisíveis, os tempos de espera
deveriam ser abreviados. Não que o médico possa alterar a evolução da doença,
mas é a única pessoa a quem nós podemos expor as nossas dúvidas, os nossos
medos, as nossas incertezas. E é a única pessoa que sabe o que devemos fazer e
como conversar connosco.
Estou melhor ou estou pior? Vá-se
lá saber….
Félix Lamartine
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