Esquecer-me de apagar as luzes
não é grave, a não ser agravar o valor da factura da electricidade. Esquecer-me
da consulta ou da pesquisa que ia fazer no computador, decidida uns segundos
antes, também não é grave, porque mais cedo ou mais tarde acabo por me lembrar.
O problema é quando os esquecimentos trazem consequências desagradáveis. Por
exemplo já me aconteceu deixar a água do chuveiro a correr e ir sentar-me ao
computador, mais de meia hora. Ou sair de casa, para ir ao café e deixar a
porta da rua aberta, mais de uma hora.
Ao empreender algumas tarefas
temos de estar muito atentos, para que não aconteça nada de grave,
especialmente para quem conduz. O perigo está sempre à espreita e acontece com
mais frequência a quem está debilitado da memória. Não é o fim do mundo, é
preciso apenas andar devagar e fazer as manobras com muita atenção. Evitar as grandes
distâncias e percursos com muito trânsito.
O essencial é nunca estarmos
sozinhos. A minha mulher anda quase sempre comigo e tem-se tornado uma ajuda
importante, que quase não posso dispensar. Muitas vezes me socorro dela, para
me lembrar as palavras que eu não consigo lembrar. Muitas vezes ela completa as
frases com este ou aquele nome que “ela adivinha” eu não saber. É ela que me prepara
a medicação do dia e me chama para tomar este ou aquele comprimido, apesar de
serem apenas seis por dia. Tem sido uma ajuda preciosa, tornando os dias menos
penosos. Nesta fase da vida sentimo-nos menos “culpados” se as pessoas que
estão a nosso lado nos compreenderem e entenderem que a culpa não é nossa.
Qual é o problema de me esquecer o
nome da Manuela Moura Guedes ou da Manuela Ferreira Leite? Mas garanto-vos que
dificilmente me esquecerei da Cristina Ferreira ou da Tânia Ribas de Oliveira.
Hoje soube que um amigo meu está
com Alzheimer. Já me tinha cruzado com ele, no consultório de Psicologia e a
mulher segredou-me que ele estava com “problemas de cabeça”. Este conhecimento
acaba por abalar uma pessoa, como se nós estivéssemos a seguir na lista.
O melhor mesmo é concentrar-me na
Cristina Ferreira…
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