Começar a perder a memória, nem
sempre quererá dizer que somos portadores do mal de Alzheimer, embora seja um
dos primeiros sinais a serem detectados durante a doença. O rendimento
cognitivo diminui com a idade e só quando esse declínio for acentuado é que,
provavelmente, podemos ter a certeza de ser portadores da doença. Refiro-me a
outros sinais, como por exemplo a incapacidade de orientação, de comunicação e
de raciocínio, apatia emocional e perturbações motoras.
Enquanto mantivermos a memória a
funcionar, mesmo que seja com alguns lapsos, temos que a “mimar” e não
deixarmos que ela se deteriore ainda mais. Já aqui falei da leitura, que além
de ser um veículo de enriquecimento intelectual, obriga a nossa memória a reter
o fluxo da história, diverte-nos (ou diverte a memória) e dá-nos prazer. Raramente
passo um dia sem ler meia dúzia de páginas de autores que eu gosto ou do género de leitura que eu aprecio.
A música é indispensável para
desenvolver as nossas emoções, especialmente quando ouvimos o que gostamos.
Gosto de vozes diferentes, que chamem a atenção, pelo seu timbre, pela sua capacidade
de nos emocionar. Só para dar alguns exemplos, gosto de Cat Power, de Natalie
Merchant, de Norah Jones, de Sophie Zelmani e de tantas outras que seria exaustivo
mencioná-las todas. Com o Youtube não é difícil ouvirmos o que gostamos, porque
os nossos intérpretes favoritos estão ali, no computador, à distância de um
clique. E sem custos adicionais.
Não esquecer o exercício físico
que é necessário para mantermos a mente sã. Este ano, devido à minha
dificuldade em suportar o frio e a chuva, comprei uma passadeira eléctrica.
Todos os dias faço entre trinta a quarenta minutos de “caminhada”, antes do
banho matinal.
Palavras cruzadas, jogos de
letras e de números, são um excelente exercício para a memória. Eu faço contas
à mão, mesmo as mais complicadas. Escrever também é uma excelente iniciativa
para estimular a memória.
Andei muitos anos a pensar
escrever, mas por vários motivos foi sempre um objectivo adiado. Mas alguma
coisa é preciso escrever. Nem seja um diário, onde possamos exprimir os nossos
sentimentos, as nossas paixões, os nossos desencantos, a nossa raiva, as nossas
ilusões e as nossas alegrias. Porque uma vida não é feita só de tristezas. Se
pensarmos bem também temos os nossos momentos de felicidade. Às vezes é preciso
construi-los, procurá-los, porque na maioria das vezes a felicidade está ali ao
nosso lado, mesmo à mão de semear. A doença não pode limitar a nossa liberdade.
Não tenho jeito para trabalhos
manuais, nem para jardinagem, nem para obras em casa. Mas quem souber, não pode
desperdiçar esse dom. Estar ocupado é uma maneira de estar distraído e não ter
tempo para pensar no que não deve. O exercício físico – a par do exercício
mental – são indispensáveis para mantermos a nossa confiança no futuro.
Porque nós temos futuro… E é
preciso acreditar nisso com muita força.
Félix Lamartine