quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lembretes



O post it é agora um dos meus melhores amigos. Para as pessoas menos familiarizadas com esta palavra, o post it é um pequeno papel, normalmente colorido, com uma cola adesiva no verso e que serve para escrever lembretes. É como uma agenda cortada aos bocadinhos e sem data. A minha secretária está cheia desses papéis coloridos, a lembrar-me que é preciso ir à farmácia, pagar o seguro do carro, renovar a carta de condução, recordar as datas das consultas ou mesmo lembrar a data de aniversário de um familiar ou amigo.

Apesar das agendas telefónicas, eu continuo a usar o post it, até porque dá um aspecto "folclórico" à minha  secretária e mesmo ao monitor do meu computador.

De qualquer maneira, também aderi às novas tecnologias e quando preciso de fazer uma consulta ou recordar um nome que foi apagado da minha memória, posso recorrer ao google, que anda sempre comigo no bolso. É uma preciosa ajuda para quem quer disfarçar o "apagão" repentino que de vez em quando nos deixa ficar mal.

Li há dias no Correio da Manhã que o Governo quer controlar a despesa com medicamentos nos hospitais. Diz a notícia que o Ministério da Saúde vai penalizar os hospitais que prescreverem mais medicamentos que em 2013.

Não é preocupante? Como todos sabemos, à medida que envelhecemos, as necessidades de medicação aumentam, isto numa altura em que a austeridade é cada vez mais dura com os reformados e pensionistas deste país. Será que esta política de contração de despesa irá trazer consequências graves para aqueles que não podem interromper a sua medicação? Tenho ouvido notícias aterradoras sobre a prescrição de novos medicamentos e sobre o tempo de espera para efectuar uma simples colonoscopia. Não é a doença em si que me preocupa. O que me inquieta são os casos reais com que deparamos no dia a dia, enquanto o Ministério da Saúde diz que está tudo bem.

Estas notícias deixam-nos ainda mais depressivo e não há sertralina que resista. Felizmente que no nosso dia a dia, vamos tendo também boas notícias que nos dão o ânimo necessário, para nem sequer nos lembrarmos que estamos doentes.

Médicos





Há dois anos, quando notei que os meus esquecimentos não eram, apenas, fruto da minha velhice, fui a uma consulta de neurologia. Foi-me aconselhada a doutora Paula Coutinho, uma longa carreira e considerada uma das melhores neurologistas do país. Era uma senhora já idosa, muito simpática e aparentemente, uma excelente profissional.

Fez-me um exame psicológico minucioso, conversou longamente comigo e disse-me que eu precisava de fazer uma ressonância magnética, no sentido de diagnosticar, com mais certeza, as origens e consequências da minha falta de memória.

No final, prescreveu-me um medicamento à base de cloridrato de memantina, denominado Ebixa 20 mg. Quando cheguei a casa e li a bula, verifiquei que o medicamento se destinava a doentes com Alzheimer. No princípio foi um choque, já que durante a consulta nunca se falou da hipótese de eu sofrer desta doença.

Dois meses depois fui chamado para comparecer no Hospital de Gaia, para uma consulta de neurologia. Fui atendido pela doutora Berta Botelho, que mostrou alguma estranheza pelo facto de me terem receitado Ebixa, pelo que parei a toma quase de imediato. E também não achou necessário efectuar qualquer ressonância magnética.

Preferiu atacar o problema através de novos testes psicológicos, que foram efectuados alguns meses depois. A doutora Teresa Ferreira - uma psicóloga com um extraordinário sentido de humor - acabou por me tranquilizar quando a uma eventual doença de Alzheimer, pelo menos naquela altura e acabou por concluir que eu estaria a sofrer de uma depressão. Não existem meios para diagnosticar com 100% de certeza se a minha perda de memória seria causada por qualquer demência. Um médico meu amigo, comentou: "Eles nunca dizem"


A doutora Berta Botelho, em função do relatório da psicóloga receitou-me um antidepressivo à base de sertralina, próprio para a cura de estados depressivos.

Há dois anos que tomo sertralina e aparentemente com bons resultados, de acordo com o relatório da segunda consulta de Psicologia. Tento não pensar muito no meu problema, embora, como é natural, eu sinta dúvidas relativamente à ausência de qualquer tratamento específico para esta falta de memória.