As pernas teimam em não querer
obedecer, apesar da teimosia diária. Agora com o frio, substituí as minhas
passeatas após o jantar, por uma espécie de caminhada no tapete, mas não é a
mesma coisa. E folgo aos fins de semana, mais por falta de vontade do que por
falta de tempo.
A minha mulher diz que arrasto
demasiado os pés. Também já tinha constatado esse cansaço e a dificuldade em
levantar as pernas.
Empenhei-me numa luta constante
para evitar o desenvolvimento da doença. A minha mulher tem sido uma excelente
ajuda, embora algumas vezes perca um pouco a paciência. Eu sei que não é fácil
para ela. Nem para mim, claro. Nos dias em que os esquecimentos são mais
constante, também eu fico desanimado e desiludido comigo mesmo. Tudo tenho
feito para o desânimo não se apodere de mim, às vezes com algum sacrifício. Às
vezes apetece-me deitar na cama e ficar ali, no escuro, de olhos fechados. Mas
continuo a ler, a escrever, a mexer no computador e a encontrar motivação na
procura de novas músicas.
Tenho alguma dificuldade em
conduzir e sinto essa dificuldade acrescida, na condução nocturna. Estou a
perder a minha concentração e só ainda não tive um acidente, porque também não
ando depressa. Mas tenho a consciência que não está a ser nada fácil. Por vezes,
vejo os carros aparecerem do nada, como se de repente perdessem a sua
invisibilidade. Se eu olhar pro lado metade de um segundo, o mais certo é eu
ter um carro na fila, parado na minha frente. É como se andasse a conduzir, a fumar e a
usar telemóvel ao mesmo tempo.
Minha mulher diz que é o Natal
que me está a pôr nervoso, pelo facto de ser em minha casa. Mas eu acho que não
é nada disso. É a memória a pregar-me partidas, de eu nunca saber onde estão as
chaves do carro, de não saber o nome das pessoas amigas ou da porta do
frigorífico ficar aberta uma noite inteira.
Uma chatice.
Félix Lamartine
Caro Sr. Félix Lamartine,
ResponderEliminarPermita-me desde já a ousadia de o contactar, e felicitar pelos seus textos, pelos seus desabafos, pela sua sinceridade e transparência.
Sou Terapeuta Ocupacional na Delegação Norte da Alzheimer Portugal, e tive a oportunidade e o prazer de conhecer o seu blog “Memória Apagada”, graças ao seu contacto na nossa página no facebook “Delegação Norte Alzheimer Portugal” ( https://www.facebook.com/alzheimerportugal.norte ).
Neste sentido, e uma vez que estou responsável pelo Projecto “Café Memória Porto”, juntamente com a Dr.ª Vanessa Pereira (Psicóloga), teríamos todo o gosto em poder contar com a sua presença numa das nossas sessões! Trata-se de em ponto de encontro para Pessoas com problemas de memória, Pessoas com diagnóstico de Demência e Cuidadores, em que trocamos experiências, informações, e acima de tudo sorrisos! (http://www.cafememoria.pt/)
As sessões decorrem sempre no 2º sábado de cada mês, das 10h00 às 12h00, na Cafetaria do Espaço Atmosfera M – Rua Júlio Dinis, nº 158, Porto (junto à Praça da Galiza e Palácio de Cristal), e a participação é totalmente gratuita!
A próxima sessão será no dia 9 de Janeiro (sábado), e teremos uma palestra subordinada ao tema "Alterações de Comportamento".
Teríamos todo o gosto em poder contar com a sua presença, nesta ou numa outra sessão, bem como a de outros familiares / amigos que considere pertinente.
Deixo-lhe o meu contacto de e-mail, para que me possa colocar todas as questões, sugestões ou opiniões que considere pertinente: marta.melo@alzheimerportugal.org.
Grata pela sua atenção, fico a aguardar a sua resposta!
Melhores cumprimentos
Marta Melo