sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A Lista

Jack Nicholson e Morgan Freeman

Durante anos, muito antes de começar a ter reais problemas de memória, eu não conseguia memorizar os nomes destes dois conhecidos actores de cinema. Um dia alguém me aconselhou a escrever os seus nomes num papel e guardá-lo na carteira. E de fazer uma leitura de vez em quando.

Em finais de 2011 a memória começou a pregar-me partidas mais sérias e resolvi fazer uma lista dos nomes apagados e a metê-la na carteira. E a consultá-la todos os dias.

Victor Hugo, Mónica Juliana, José Gomes Ferreira, Paulo Macedo, Medina Carreira, Miguel de Sousa Tavares, Pacheco Pereira, Miguel Esteves Cardoso, Fabiano, Domingos Salvador, Nuno Chaves, Margarida Rebelo Pinto, Agostinho Pedrosa, Dias Loureiro.

É o que eu tenho feito ao longo destes dois anos à medida que os esquecimentos se acentuam. Quase sempre resulta, embora muitas palavras continuem apagadas na minha memória.

Também tenho uma lista com os nomes dos filhos e netos dos meus amigos. Não fica bem a gente esquecer-se do nome dos mais pequenos.

E hoje, se me perguntarem o nome de dois actores de cinema estrangeiros, tenho sempre a resposta na ponta da língua.

Jack Nicholson e Morgan Freeman.

Félix Lamartine

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Exercício Físico

Estudos feitos por investigadores americanos, concluiram que o exercício físico melhora as funções cognitivas. Também se sabe que o exercício contribui para melhorar a circulação sanguínea no cérebro e potencia funções como a memória (Boas Notícias, edição de 18/11/2013).

Eu dou caminhadas quase diárias de 30 a 40 minutos, às vezes mais, embora eu considere que não é suficiente. Durante anos frequentei a piscina de Espinho, duas vezes por semana, mas há já dois anos que deixei de o fazer, sem que hoje possa justificar os motivos desta decisão.

Mas lembro-me que a decisão coincidiu com uma fase mais acentuada da perda de memória.

Foi exactamente na piscina que aconteceu um estranho incidente que me assustou. Estava eu a equipar-me para entrar na água, quando detectei a falta de chinelos. Como se sabe para entrar na piscina é necessário o uso de calções, de touca e de chinelos. Fui falar com o empregado que vigia os nadadores e pedi-lhe uns chinelos emprestados. Eles têm sempre qualquer peça de roupa de uso obrigatório, esquecidas nos balneários por outros utentes. Voltei para o balneário para acabar de me preparar, e qual não foi o meu espanto ao constatar que tinha os meus chinelos calçados nos pés.
 
Félix Lamartine




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Hereditariedade

Só apareceu no dia seguinte de manhã. Tinha saída de casa, na manhã do dia anterior, não foi almoçar ao restaurante do costume, nem apareceu pelo café que frequentava lá na terra. Foi encontrado por populares, caído e enrolado numa vala, para onde tinha escorregado. Levei-o às urgências do Hospital de Gaia. Meu pai foi atendido muitos minutos depois, a tiritar de frio e de medo. Após alguns exames de rotina, disseram-me que meu pai tinha problemas mentais e que o melhor seria ir a nova consulta no Centro de Saúde Mental, em Vila Nova de Gaia.

Algumas semanas depois foi chamado para consulta no referido Centro de Saúde e o médico não fez mais do que confirmar a demência de meu pai e que pouco havia a fazer a não ser dar-lhe uns comprimidos para refrear uma eventual agressividade e para lhe dar alguma tranquilidade.

Pouco a pouco foi perdendo a memória e a vontade de comer. Às vezes para lhe cortar a barba, pedia que se sentasse numa cadeira e parecia não me entender. Ficava ali parado, os olhos fixos nos meus, sem me responder, como se eu falasse uma outra língua. A partir daí nunca mais lhe ouvi uma palavra.

Faleceu em 1986 com 74 anos.

Félix Lamartine

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Página Inicial

Isto não é um diário.

É apenas um relato, sem qualquer preocupação cronológica ou científica, do resto da minha vida.

Estou a perder a memória e tudo indica que possivelmente, mais cedo ou mais tarde, a doença de Alzheimer ou qualquer outra demência vai-se tornar mais visível. Enquanto isso não acontece, vou tentar viver os meus dias da melhor maneira, sem dramatismos, deixando algumas palavras de incentivo àqueles que neste momento estão na mesma situação.

Não quero servir de modelo para ninguém. Quero essencialmente ter um contacto permanente com os meus amigos. Desde sempre gostei de escrever mas nunca me atrevi a fazê-lo. Nas minhas circunstâncias é preciso ter projectos para futuro, não deixar que inércia se apodere de nós. Este blogue é o meu presente e o meu futuro, embora aqui e acolá eu passe os olhos pelo passado.

Até breve

Félix Lamartine