quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Sono



Tive a semana passada consulta anual na especialidade de neurologia. Achei a doutora Berta Coelho muito simpática, mais aberta à discussão do meu problema, mas contrariou o meu pessimismo, E claro que eu sinto-me pior do que há um ano atrás. Quem vive comigo também sabe que os esquecimentos são mais constantes, que se repetem com maior intensidade. Talvez as coisas sejam mesmo assim ou eu não tinha sido capaz de transmitir a minha apreensão quanto ao aumento de perda de memória. A médica diz que aparentemente a minha conversa e a clarividência que demonstro na explanação do meu dia a dia, permite-lhe garantir que eu estou ainda muito longe de vir a ter Alzheimer, pelo menos se eu continuar a manter um estilo de vida, que permita atrasar por alguns anos, o desenvolvimento da doença. Mas eu sei que há uma degradação lenta da minha memória, A verdade é que tudo tenho feito para a manter activa, lendo e escrevendo, ouvindo música, fazendo algum exercício físico. Agora, com o frio, as caminhadas ficam mais difíceis e sinto necessidade de prolongar o tempo e a distância desses exercícios.

E tenho um problema de sono. Nem sempre adormeço com facilidade. Tem noites em que dou meia dúzia de voltas na cama, sem conseguir adormecer. E depois sou capaz de dormir muitas horas seguidas, sem conseguir dominar a preguiça que se apodera do corpo. Durante a tarde se não tiver qualquer ocupação, cedo à tentação de uma sesta, independentemente de estar a ver televisão ou a “trabalhar” no computador. Falei à médica, que diz ser natural, embora eu tenha a consciência que deveria levantar-me mais cedo, para aproveitar bem os dias.

Tenho dias em que sinto dificuldade em transmitir uma ideia, contar um acontecimento ou explicar algo que vi na televisão ou a história do livro que ando a ler. Por vezes à tarde esqueço o assunto que falamos de manhã. Às vezes fazem-me perguntas e eu tenho dificuldade em responder de imediato, fico calado, a pensar, a escolher as palavras certas. E depois perguntam-me porque é que eu não respondo. Tenho optado por falar devagar, para dar tempo à memória para escolher as palavras certas.

Começo também a ter tonturas, especialmente nas rotações rápidas a 180 graus. Tenho de ter alguns cuidados, especialmente nas curvas.

Félix Lamartine