Tenho a sensação de viver em
contínuo Carnaval, já que a minha memória não pára de me pregar partidas.
Esqueço, com frequência, do nome dos meus amigos, embora alguns deles eu acabe
por me lembrar, mas apenas depois de um esforço, o que leva o seu tempo. Às
tantas nem são assim tão amigos.
Duas boas notícias. E ambas
vindas do Estados Unidos da América. Às vezes penso que são notícias para
alimentar a esperança dos doentes de Alzheimer. A primeira é que está em vias
de conclusão, um implante com potencialidade para restaurar memórias, destinada
a soldados com danos cerebrais contraídos nas guerra dos Iraque e do
Afeganistão e que podem ser extensivas àqueles que estão a perder a memória. A
outra refere-se a uma proteína que rejuvenesce o cérebro e os músculos, que
também está a ser estudada naquele país. Uma espécie de “proteína” da
juventude.
Estas notícias têm o condão de
alimentar a esperança. Como venho a dizer desde o início não devemos perdê-la,
mesmo que surjam dias menos bons. Engraçado como andamos uma vida a tentar
esquecer as más recordações e de repente ouvimos dizer que podemos voltar a
senti-las apenas através de uma simples proteína. Se ao menos pudéssemos separar
as boas das más memórias…
Sinto que não estou pior. Os últimos
tempos têm sido de paz. Continuo a esquecer-me dos nomes daqueles que que não
devia esquecer, mas algumas das minhas capacidades não diminuíram. As histórias
dos livros que leio continuam a fazer sentido, as personagens não se apagam de
um dia para o outro. Continuo a sentir a música como há cinco anos atrás. Continuo
a amar as pessoas e as coisas com a mesma intensidade de toda uma vida.
Posso dizer que tenho andado a
viver em estado de graça.
Félix Lamartine